Uma vida — A história de Nicholas Winton
Você provavelmente conhece a história do homem que salvou centenas de crianças no período de um ano durante a Segunda Guerra. Essa história tornou-se marcante depois que esse homem foi convidado para um programa de televisão e toda a plateia era composta pelos adultos que, um dia, foram as crianças que ele salvou. Uma vida — A história de Nicholas Winton, infelizmente não soube aproveitar seu próprio argumento. Resultando em um filme raso, caricato e cafona.
O ano é 1938, Nicholas é britânico e trabalha em um banco no horário comercial. Um dia, visitando Praga, se compadece com a situação das famílias judias que o nazismo estava prestes a alcançar; em especial as crianças, que não sobreviveriam naquele inverno. Com a ajuda de uma rede de amigos envolvidos em causas humanitárias, da própria mãe (Helena Bonham Carter) e de alguns burocratas, Nicholas monta uma estratégia funcional para embarcar essas crianças em segurança num trem para a Inglaterra, onde famílias britânicas estariam dispostas a abrigá-las temporariamente.
O primeiro grande erro de Uma vida está na escolha do ator Johnny Flynn para interpretar Nicholas, ou seja, Anthony Hopkins jovem. Não basta ser parecido, também é necessário talento. Se víssemos um Michael Pitt no lugar de Flynn, muito sofrimento em assistir esse filme RUIM teria sido poupado. Ou não, porque daí vem o roteiro, responsabilidade de Nick Drake. Sério: o que aconteceu aqui? É um roteiro pobre com uma montagem pior ainda — o filme inteiro parece picotado e colado em cenas aleatórias, uma cada vez menos interessante que a outra. Abusando de flashbacks entre passado e presente de Nicholas, a burocracia não é atraente no cinema e mais da metade do filme trata desse protagonista carimbando papéis e buscando assinaturas. O grande conflito está no pensamento intrusivo de Nicholas, razão de seu arrependimento e sentimento de culpa após tantos anos, que foi o de não ter conseguido salvar as crianças da última viagem, porque o trem foi atacado pelos nazistas. E isso importa mais do que as 669 vidas que tiveram um destino diferente graças a sua influência.
Quando Jonathan Pryce aparece para interpretar Martin, o melhor amigo de Nicholas, até pensei: “agora o filme vai ficar bom, vai virar Dois papas”, mas não. É uma participação mínima, uma conversa entre dois velhos conhecidos que tiveram seus papéis em um momento significativo da História, flertando com tudo que aconteceu. Nicholas, agora Anthony Hopkins, quer fazer algo com os documentos que guardou, as listas daquelas crianças. Martin sugere doar o catálogo para um museu. O filme poderia ter ficado sem essa cena tranquilamente. O investimento que fizeram nos dois minutos de Pryce em tela poderiam ser revertidos para um ator mais carismático que interpretasse Nicholas jovem.
Por fim, o trailer estraga o filme. Ele entrega o plot da narrativa em programa de auditório, de modo que você chega ao final sem surpresa, com um Anthony Hopkins chorando de emoção e eu rindo de nervosa na poltrona do cinema, incrédula com a perda de tempo que tive com Uma vida. Não vejo a hora de esquecer o filme menos impactante que já vi sobre a Segunda Guerra.
Muito impressionante. Só pode ser dívida de jogo.